Minha primeira vez

Dezenove de outubro de dois mil e nove. Este foi o dia. Lembro com precisão até o horário. Lembro de tudo! Posso descrever em por menores todo o ambiente, até mesmo quantas pessoas tinham no quadro da decoração. Mas eu decidi que irei poupar vocês de detalhes insignificantes ou grosseiros. Ou, detalhes insignificantes e grosseiros. Como o que ele fez comigo lá dentro e coisa e tal, e tal e coisa... Enfim.
No dia em que tínhamos marcado eu já acordei tensa. Mas de uma coisa eu tinha certeza: ele era confiabilíssimo. É claro que eu fiz uma minuciosa pesquisa entre as amigas antes de comparecer. Eu me amo muito, não iria me entregar, entregar o meu bem mais precioso a qualquer um.
Precisamente pontual eu estava lá: em carne, osso e constrangimento. Fui sozinha. Primeiro, porque eu não queria que ninguém testemunhasse o quanto eu estava perturbada por causa da situação. Além do mais, o que eu ia fazer? Deixar a minha acompanhante esperando do lado de fora enquanto o serviço era feito lá dentro? Não, né. Depois, tenho essa mania de passar sozinha pelas coisas mais embaraçosas. De um jeito estranho, me sinto mais forte. Mas isso é assunto para uma outra conversa... Por hora vou focar no que eu tenho para compartilhar. Uma consideração importante é a maneira como eu estava me sentindo...
Ah, não há palavra que descreva. Basicamente, eu estava desconfortável. A cada minuto que passava uma borboleta a mais aparecia no meu estômago para fazer festa. Imaginem que ele se atrasou vinte e três minutos! Oh, Cristo, foram vinte e três longos minutos de show de rock estomacal. Podia até ouvir os berros do Metallica. Divaguei tanto. Volta e meia um pensamento de coragem me rondava:

- Por que a vergonha? Toda garota passa por isso, além do mais, você já se sente preparada.

É realmente uma pena que esses pensamentos não fizessem mais que breve ronda.
Durante o atraso estimam-se quatrocentos mil pensamentos de desistência! E, depois de mil trezentos e oitenta segundos tomando coragem para ir embora (23 minutos possuem 1380 segundos – sim, eu calculei, afinal a credibilidade de um relato reside em sua concisão, ok?), eis que a porta branca se abre e ele, pessoalmente, chama o meu nome.
Tremi. Agora era a hora, não podia sair correndo como uma garotinha, por mais que eu quisesse. Tinha que mostrar que ele estava lidando com uma adolescente madura e sensata. Empinei o nariz e sai rebolando. Tive medo de tropeçar em algo e cair, como é típico de quando eu empino o nariz e rebolo, mas tudo correu bem. Acho que devido ao horário Murphy estava no seu sono de beleza, então, não se manifestou.
Adentrei em seu cafofo. Ops, perdoe a minha falta de maneiras.
Porta adentro, sentei de frente para ele. Aposto que tinha um letreiro em neon na minha testa: “ESTOU TENSA!” Se naquela hora ele medisse meu nervosismo, o mercúrio iria explodir o termômetro.
Ah, sobre ele! Um Adônis! Um doce de pessoa. Não sei como a sala não foi invadida por formiguinhas de antenas. Realmente muito doce. Docinho, docinho, uma delícia!! Desculpe o comentário pejorativo. Ele também era super educado e tal tal tal. Pele morena, cabelos lisos caindo na festa, corpulento... Um cara de presença! Um cara lindo. Chega até a ser um abuso que uma pessoa dessas seja tão bonita. Um atentado ao meu pudor. E o seu dedo anelar esquerdo pedindo uma aliança de ouro com nossos nomes gravados? Que escândalo!
Bem, fantasias a parte, lá dentro, os primeiros instantes foram de tranquilização. Algumas perguntas bobas, explicações, só papo. Mas nem por um segundo eu fiquei tranqüila. Era impossível esquecer a razão pela qual estava naquele lugar de extrema e irritante neutralidade. Eu arriscaria dizer que a decoração indiferente tinha o intuito de deixar o ambiente mais ameno. É uma pena que o efeito tenha sido inversamente proporcional à intenção. Tanta suavidade não era agradável. Não era para mim, pelo menos. Não sei quanto às outras. “As outras”: morro para sempre de ciúmes!
Deixarei de delongas e terminarei logo esta narrativa que por hora tem ficado demasiado extensa. (?) Contudo, não vou deixar de ressaltar a maneira tranquila como ele me mandou tirar a roupa. Foi tão... Simplório, natural. Como ele consegue?
Me deu um trapo branco para vestir. Talvez, queria que eu ficasse mais a vontade. Talvez, fosse parte do procedimento. Ou na certa eu estava muito gorda e ele não queria olhar para a minha cintura de três metros e meio de diâmetro. Pronto, falei!

- Deite-se, por favor

Ordenou docemente. Sempre tão doce!
Aquele lugar onde eu deitei era muito desconfortável, diga-se de passagem. Colchonetezinho fino. Acho que eu deveria ter ido dali direto para o fisioterapeuta.
Depois, me instruiu a abrir as pernas (vergonhoso, absolutamente vergonhoso). Uma perna aqui e outra acolá!
Queria ter visto a minha cara. Olhei para um teto em busca de um espelho. Infelizmente (e obviamente), não tinha! Senti o coração parar de bombear e o sangue, por divina providência, ficar acumulado todinho na minha cabeça. Aposto que fiquei parecida com aquela moça de não-sei-que-filme que ficou tempo demais na câmara de bronzeamento a laser: vermelha que nem um camarão!
Por fim, pernas abertas, instrumento de trabalho devidamente posicionado.
Ele, a personificação da doçura passou a me conhecer intimamente, de uma maneira que nem eu mesma conhecia. Conheceu a fundo os meus “países baixos”. Explorou meu interior de uma maneira que eu mesma nunca tinha feito. Por fim, fez seu trabalho – nada de detalhes grosseiros. Nos despedimos. Fui embora. Sobrevivi. Espero que não tenha que voltar ao ginecologista, no mínimo, pelos próximos dois séculos!

9 comentários:

Fran disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fran disse...

Ahuiahuaihauihauiahuahuahuahuahau
É... realmente toda garota/mulher passa por isso, mas a gente sobrevive :)

Beijos!

Autora de Sonhos disse...

Obrigada pela visita, volta sempre:

Tal como tu...tb não gosto dessas consultas, dispenso :)

bjs

✿ Flah ✿ disse...

olá Dona Maria! xD
obrigada pela visita. agora seu blog será devidamente seguido por mim. ;)

beijos, cuide-se!

douglas nascimento disse...

A primeira vez é uma coisa normal e todas um dia a conhecem. O peculiar mesmo é uma mulher contar sua primeira vez num blog. Hahaha.
Bom, eu pelo menos achei muito interessante a iniciativa. E cada vez mais eu tenho a certeza de que não gostaria de ter nascido uma menininha.
Mas enfim, te desejo tranquilidade nas próximas aventuras. Até mais.

Lucas disse...

Antes a primeira vez, que a última.

(-:

Unknown disse...

Meninaaaaa que desespero!!!! Até chegar na parte que : "ah, ela foi a um consultório claro" eu imaginei mil coisas! hauahauaaha ótimo!!!

natalya siqueira. disse...

seempre TEENSO!
adoorei a abordagem do texto Dona Maria. seu blog é seguido devidamente também por mim. bj. (:

DiegoFerrite disse...

As primeiras vezes de uma mulher... sempre vai ter uma primeira vez, e só vai deixar lembranças se doer.