Mais de minha relação com a insegurança

Insegurança: s.f. Falta de segurança.

Apenas isso? Eu me recuso a aceitar essa mísera definição. Oh, francamente, Senhor Aurélio! Como ousa dar um significado tão simplório para minha querida insegurança? Justo ela, minha companheira, minha melhor amiga de infância! Doce insegurança... Estamos juntas desde aquele tempo em que a diretora do colégio tomava a leitura dos alunos na alfabetização. E assim seguimos, sempre juntas. Inseparáveis, como Chris e Greg. Mas é tão criticada e ofendida, oh, pobre insegurança.
Apesar da nossa relação por vezes tumultuada, não posso deixar que tratem-na com tanta aspereza, mesmo tendo conhecimento de que ela inevitavelmente se transformou num empecilho para o êxito. Só eu tenho o direito de magoá-la.
Sei que ela é a principal responsável por muitos dos meus fracassos e estou ciente que preciso me desfazer de tudo esteja nesta condição. Mas é duro, hard, so hard... Não estou preparada para deixá-la ir embora, afinal, são tantos anos gozando de sua plena fidelidade. A propósito, quem apostaria na fidelidade de um sentimento tão traiçoeiro como a insegurança? Mas sim, a insegurança é fiel, tanto quanto Sancho Pança foi ao Dom Quixote. Até o que há de mais traiçoeiro é dotado de nobrezas (desprezíveis, mas ainda assim nobrezas). E o apreço também é um sentimento nobre. Sei que ela nutre por mim um singelo (?) sentimento, e por isso fez com que eu abdicasse de me entregar por completo. Zelo. Estou certa de que o fez na melhor das intenções, não queria que eu sofresse. – E não acabou sofrendo do mesmo jeito? O inferno está cheio de boas intenções!
Ciúme também. Teve receio de que eu a trocasse pela segurança que acompanha o amor. Coitadinha, eu a entendo... Eu a entendo p-e-r-f-e-i-t-a-m-e-n-te.